Pré ou Pós Conceito: Porque os evangélicos são vistos como radicais?

Recentemente uma novela da Rede Globo, Duas caras, provocou a ira de diversos grupos evangélicos ao mostrar uma cena de intolerância religiosa protagonizada por evangélicos. Na trama global, um grupo de crentes radicais, entoando palavras de ordem, tenta linchar as personagens Bernardinho (Thiago Mendonça), Heraldo (Alexandre Slaviero) e Dália (Leona Cavalli). Tal ato de violência desmedida se dá pelo fato destes três manterem um triangulo amoroso, e só não termina com a morte das personagens Bernardinho e Heraldo devido a intervenção de outras personagens.

O repúdio a tal cena se baseou na acusação de preconceito por parte da emissora carioca. Alegou-se que a violência e a intolerância não fazem parte do ideário evangélico, e ainda que fatos como o reportado de forma ficcional na novela não encontram eco no dia a dia, porém tal afirmação é verdadeira? Suspeito que não.

Não obstantes fatos isolados como o brasiliense que matou o patrão em “nome de Deus”, ou ainda o paulista que matou o pai durante um culto evangélico em Osasco, encontramos também demonstrações claras de intolerância e ódio vindas de importantes lideranças evangélicas e de grupos religiosos organizados, como a Igreja Batista de Westboro, dos Estados Unidos, que ficou conhecida após ”protestos” realizados durante o funeral de soldados gays mortos na guerra do Iraque: os “irmãos”, portavam cartazes com frases homofóbicas como “Deus odeia bichas” e/ou “Obrigado Deus pelos soldados mortos”. Além desta manifestação, a mesma igreja gravou a canção God Hates The World And All Its People (Deus odeia a Terra e todos os seus habitantes) , onde todos aqueles que não compartilham do ideário evangélico são chamados de “família do diabo” e descritos como o motivo pelo qual Deus odeia a Terra.

Como defesa, não adianta alegar que este tipo de atitude é exclusividade dos puritanos norte americanos. No Brasil a intolerância atinge extremos tão preocupantes quanto aqueles patrocinados pela Igreja Batista de Westboro, não apenas contra os homossexuais, como também, e principalmente, contra adeptos e fiéis de outras religiões que não a evangélica. Em matéria publicada no site dos Diáconos Batistas do Rio de Janeiro, relata-se a existência de diversos processos contra igrejas evangélicas devido ao preconceito e à intolerância religiosa. No mesmo artigo, José Medrado, mentor do Centro Espírita Cidade da Luz, conta que foi alvejado com uma Bíblia nas costas, e lamenta: “Infelizmente ainda vemos pessoas fomentando esse tipo de animosidade, fugindo ao que temos de mais bonito, que é a pluralidade”.

Diante disto não entendo que por veicular tal cena, seja pertinente acusar a Rede Globo de preconceito, uma vez que a associação da imagem dos evangélicos à demonstrações públicas de intolerância e violência vem se tornando corriqueira. Pode-se sim falar em PÓS CONCEITO, ou seja, um conceito que vem sendo construído sobre a observação das ações comuns ao quotidiano dos grupos evangélicos. É também importante lembrar que nenhum grupo cria uma imagem de “bons moços” chutando santas ou agradecendo a Deus pela morte de compatriotas gays. É preciso realmente ser diferente para poder ser visto como diferente.